domingo, 9 de agosto de 2009

O mito da liberdade

Forjamento de um mitoNeste ensaio sobre mitos ideológicos vou me focar na história, mas precisamente na história política “americana”. E tecerei um pouco de filosofia e critica, sobre a visão que muitos têm sobre o EUA e sua fantasiosa é propagandista ideologia de liberdade.

Para entendermos a ideologia de liberdade Tio Sam, temos que voltar no tempo, mais precisamente a 1776, ano este que os “americanos” se tornaram livres da opressão e tirania inglesa.

Ora isso é tudo muito bonito, mas não é bem a realidades dos fatos que ocorriam naquela época. O Reino Unido da Grã Bretanha do século XVIII era talvez, o país mais avançado politicamente, havia outros, mais eram quase inexpressivos no cenário internacional da época.

Em 1776 o Reino Unido já era uma monarquia constitucional governada por um parlamento e Jorge III, 3º rei da dinastia Hanover de origem alemã, esta dinastia sofria vários problemas no seu reino devido em grande parte a eventos ocorridos desde a guerra civil do século XVII no reinado dos Stuarts dinastia essa, também estrangeira; e vista com maus olhos devido a suas origens escocesas, seu despotismo e seu catolicismo fervoroso, será?

Os reis Hanover tiveram que buscar apoio em meio à sociedade britânica da época contra o crescente poder do parlamento inglês. Que já estava sobre controle da burguesia, e desde a revolução gloriosa tinha muitos poderes tendo inclusive o direito de nomear um primeiro ministro, o que limitava em muito os poderes dos reis; mas onde encontra esse apoio?

A festa parlamentar britânica tem uma turma de barrados, esses representavam os agricultores livres, os nobres tradicionais, na sua maioria celta; e é nessa camada que o rei vai buscar apoio contra a nova burguesia em sua maioria protestantes e inglesa. Os ingredientes para a “fogueira” já estava todos colocados em seus devidos lugares só faltava o “fósforo para acendê-la”.

Na mesma época, a Inglaterra estava participando cada vez mais do jogo político e militar europeu, como na Guerra dos 7 anos, guerra essa que vai ter um papel fundamental para o imaginário de “liberdade” dos EUA, como veremos a seguir.

A Guerra dos 7 anos foi travada por vários países, mais os dois principais antagonistas foram: França e a Grã Bretanha - inclusive com a participação de colonos americanos dos dois lados - justamente ai que entra o forjamento do ideal dos EUA de liberdade – o fósforo que faltava para acender de vez a fogueira. Se os colonos americanos ingleses podiam lutar pelas causas de seu rei alemão, então poderiam lutar por um ideal protestante e inglês.

As medidas de alguns ministros que tentaram tapar o rombo feito nos cofres devidos às guerras, com mais taxas acabou desagradando alguns colonos que já tinham entrado no jogo dos burgueses de Londres - medidas em sua maioria tomada por membros aristocratas de origem celta - acarretou um profundo sentimento nacionalista nos colonos; ao verem seu país sendo controlado por um alemão, e os celtas, seus inimigos históricos.

A situação se torna insustentável, com atitudes de poder dos dois lados, acarretando em guerra declarada. Um fato curioso para se pensar: como é que um país que era colônia agrícola conseguem derrotar, um que já tinha a maior marinha do mundo; simples os inimigos dos britânicos nas guerras do passado ajudam os colonos americanos com armas e material humano.

A França e a Espanha entram na guerra ao lado da “liberdade”, assim como voluntários do Quebec, Prússia e da República das Duas Nações (Polônia e Lituânia), além das tribos indígenas dos oneidas e tuscaroras, para ajudar os EUA a forjar o seu “ideal”. O livro de Carlo Botta "Storia della guerra dell'Independenza d'America" (1809) é uma boa leitura sobre este tempo.

The_Declaration_of_Independence_by_Jean_Leon_Gerome_FerrisUm aparte: Apesar de alguns membros idealistas como Benjamim Franklin e Thomas Jefferson idealizarem um país livre e igualitário como manda a cartilha iluminista, o que prevaleceu foi um país autoritário, militarista, “egocêntrico” e com mania de grandeza, uma copia fiel de sua “mãe” Inglaterra.

A Inglaterra com a pressão em torno da “liberdade americana” acaba cedendo e aceitando a independência dos EUA. E o começo dos mitos da “liberdade”, “democracia” e da predestinação dos EUA - o famoso “destino manifesto” - a comandar o mundo nos campos político, religioso, econômico e militar.

Sua política mundial, a cada década que passava, acabava por se tornar naquilo que eles supostamente combateram. É um exemplo daquela frase dita por Nietzsche “Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro.”, mas aonde isso tudo nos leva? Vamos a algumas conclusões:

Os motivos para a guerra de independência americana foram então raciais? Em certo modo sim, assim como o religioso e o econômico, também tiveram papel importante.

Os colonos dos 13 estados não lutaram contra uma tirania? Esse e o fato mais escabroso no mito americano, é claro que não, a Grã Bretanha era o país mais “democrático” da época; o cidadão “americano” tinha mais liberdade em sua colônia inglesa do que um francês em Paris.

Os EUA não são os berços da liberdade e democracia das Américas? Isso é outra balela da propaganda ideológica deles, nem eles são tão liberais assim, como o conceito de democracia é uma farsa; aqui cabe outro ensaio que irei elaborar mais pra frente.

Bem eu encerro este texto por aqui para não me estender muito, pois irem elaborar outros, sobre assuntos semelhantes; então voltaremos ao mesmo em outras oportunidades. Leiam o Livro "América. Passado e Presente" (1992) de Robert A Divine para ficar por “dentro de alguns mitos americanos”.

Matéria atualizada em 16 de junho de 2012

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